A adoção dos princípios FAIR promove a transparência, a reutilização e a interoperabilidade dos dados científicos, fortalecendo a qualidade e o impacto dos resultados das investigações. A correta publicação dos dados assegura também o cumprimento de políticas institucionais e de financiadores, fomentando a colaboração e a inovação.

A Rede para a gestão de Dados de Investigação abriu inscrições para três edições do workshop que versa sobre a temática “Como Publicar os Dados da Sua Investigação e Tornar os Dados FAIR“, dirigidas a diferentes áreas científicas.

Estas iniciativas apresentam-se como uma oportunidade imprescindível para investigadores, doutorandos, docentes e pessoal de apoio à investigação adquirirem conhecimentos práticos e atualizados sobre a publicação e gestão adequada de dados científicos, em consonância com os princípios FAIR (Findable, Accessible, Interoperable, Reusable).

As sessões foram planeadas com foco em três áreas disciplinares distintas: Ciências Sociais e Humanas: 17 de outubro de 2025, na Universidade NOVA de Lisboa (NOVA FCSH); Engenharia e Tecnologia: 24 de outubro de 2025, no Instituto Politécnico de Bragança, e Ciências da Vida: 11 de novembro de 2025, na Universidade de Coimbra.

A participação é gratuita, com vagas limitadas, pelo que se recomenda a inscrição atempada.

Os workshops terão uma duração aproximada de 3,5 horas, combinando momentos teóricos, complementados com exercícios práticos, que facilitam a aplicação dos conceitos aprendidos. Pretende-se assim, capacitar os participantes com conhecimentos  sobre os princípios FAIR e a sua relevância na investigação, no âmbito das boas práticas de Ciência Aberta, ensinar competências para a identificação e seleção de repositórios adequados para a publicação de dados, conforme as exigências disciplinares, adquirir competências para avaliação e otimização da compatibilidade FAIR dos dados produzidos durante os projetos de investigação, e fornecer orientação na elaboração de documentação e metadados, incluindo a redação do ficheiro README, fundamental para a acessibilidade e reutilização dos dados.

O consórcio Re.Data mantém-se comprometido com a promoção das melhores práticas na gestão dos dados científicos, contribuindo para o fortalecimento da Ciência Aberta em Portugal.

 

Já foi publicado o primeiro “Relatório sobre a operacionalização da Rede Portuguesa de Data Stewards” na nossa comunidade Zenodo. Este é um marco importante para o projeto Re.Data, uma vez que destaca o papel inovador da Rede Portuguesa de Data Stewards (RPDS) que pretende promover a gestão colaborativa de dados de investigação em Portugal.

A RPDS foi criada para com o objetivo de consolidar e fortalecer uma comunidade de profissionais dedicados ao apoio à gestão de dados científicos, promovendo colaboração entre instituições, formação contínua e partilha de boas práticas. Com uma estrutura organizacional participativa e sem custos de adesão, é através do envolvimento dos seus membros nas reuniões regulares que se pretende organizar sessões online e eventos que respondam às suas necessidades de cada um..

No relatório, é possível consultar com detalhe o modo de organização, funcionamento e plano de atividades da Rede, evidenciando o compromisso do Re.Data com a modernização e internacionalização das práticas de gestão de dados científicos. Este relatório é um entregável do projeto Re.Data, que tem vindo a impulsionar a gestão responsável e eficiente dos dados de investigação em Portugal. Para consultar, basta aceder a https://zenodo.org/records/16571614

De que modo os dados contribuem para a prevenção de doenças provocadas por insetos? 

Como podem os dados contribuir para o reforço da resposta das autoridades de saúde? 

Qual a relevância da normalização de procedimentos em projetos de consórcio?

Qual o ponto de equilíbrio entre a proteção de dados e a investigação socialmente relevante?

DESCRIÇÃO

O projeto propõe-se aprofundar o conhecimento sobre os fatores ambientais e socioeconómicos que influenciam a propagação de doenças causadas por agentes patogénicos transmitidos por flebótomos, cuja incidência tem aumentado devido às mudanças climáticas e alterações ambientais.

Entre os seus objetivos principais estão o desenvolvimento de um sistema de alerta precoce para monitorizar e prever alterações na distribuição e sazonalidade destes insetos vetores, a avaliação do risco de transmissão dos agentes patogénicos e a análise do impacto socioeconómico das doenças associadas. O projeto visa ainda apoiar a definição de políticas de adaptação e mitigação, promovendo respostas integradas e baseadas em evidência científica. 

Ao fornecer avaliações de risco mais fiáveis e melhorar a previsão da distribuição presente e futura das doenças causadas por agentes patogénicos transmitidos por flebótomos, pretende reforçar a eficácia da resposta das autoridades de saúde.

TRÊS LIÇÕES APRENDIDAS

Normalização dos procedimentos de recolha e manutenção de dados por todos os membros do consórcio

Num consórcio de investigação, onde múltiplas instituições colaboram na produção e análise de dados, a normalização dos procedimentos de recolha, armazenamento e manutenção de dados é essencial para garantir a consistência, a qualidade e a integridade dos resultados. A adoção de metodologias comuns permite que os dados sejam comparáveis e interoperáveis, independentemente da sua origem, facilitando a integração e a análise conjunta. Esta uniformização reduz redundâncias, minimiza erros e assegura que todos os membros do consórcio operam com base em critérios técnicos e éticos partilhados. Além disso, contribui para a eficiência operacional e para a credibilidade científica do projeto.

Partilha de dados sustentada por documentação apropriada

A partilha de dados é um dos pilares da ciência colaborativa, mas deve ser realizada com responsabilidade e transparência. Tanto no contexto interno do consórcio como em interações com entidades externas, é fundamental que os dados sejam acompanhados de documentação rigorosa, incluindo metadados, termos de uso, licenças e acordos de confidencialidade. Esta documentação assegura que os dados são compreendidos no seu contexto original, utilizados de forma ética e em conformidade com os direitos e deveres das partes envolvidas. Além de proteger os interesses institucionais e individuais dos investigadores, esta prática promove a confiança mútua, a rastreabilidade e a valorização do trabalho científico desenvolvido.

Importância da aplicação prática dos princípios FAIR

A aplicação dos princípios FAIR na gestão de dados científicos é cada vez mais reconhecida como uma boa prática essencial para maximizar o valor da investigação. Tornar os dados encontráveis (Findable) implica o uso de identificadores persistentes e metadados descritivos; garantir que são acessíveis (Accessible) requer a definição clara de condições de acesso e uso; assegurar que são interoperáveis (Interoperable) envolve a utilização de formatos e vocabulários padronizados; e promover a sua reutilização (Reusable) exige documentação completa e licenças adequadas. A implementação destes princípios não só facilita a reutilização dos dados por outros investigadores, como também contribui para uma ciência mais aberta, eficiente e sustentável, alinhada com as exigências de financiadores e políticas públicas de investigação.

 

TRÊS DESAFIOS FUTUROS

Garantir a continuidade da aplicação dos princípios FAIR, promovendo a sua integração efetiva em práticas de ciência aberta

A aplicação dos princípios FAIR (Findable, Accessible, Interoperable, Reusable) deve ser entendida não como uma etapa pontual, mas como um compromisso contínuo ao longo de todo o ciclo de vida dos dados. A sua integração efetiva nas práticas de ciência aberta exige o desenvolvimento de políticas institucionais claras, a capacitação dos investigadores e a adoção de ferramentas tecnológicas que facilitem a sua implementação. Ao garantir que os dados permanecem localizáveis, acessíveis, interoperáveis e reutilizáveis, mesmo após o término dos projetos, promove-se a longevidade do conhecimento científico e a sua disseminação responsável.

Assegurar a continuidade dos procedimentos e a manutenção de um servidor fiável para o armazenamento seguro dos dados

A infraestrutura tecnológica desempenha um papel determinante na preservação e acessibilidade dos dados. A manutenção de um servidor fiável, seguro e com capacidade de longo prazo é essencial para garantir que os dados recolhidos não se perdem, permanecem acessíveis e podem ser reutilizados por outros investigadores ou em novos contextos. Esta continuidade operacional deve ser acompanhada por procedimentos bem documentados, planos de preservação digital e mecanismos de redundância que assegurem a integridade e a confidencialidade da informação armazenada.

Conciliar a aplicação rigorosa das boas práticas de proteção de dados com a promoção de investigação socialmente relevante, garantindo que uma não comprometa a outra

A proteção de dados, especialmente quando se trata de dados pessoais ou sensíveis, é uma exigência ética e legal incontornável. No entanto, esta proteção não deve ser vista como um obstáculo à produção de investigação socialmente relevante. Pelo contrário, é possível — e desejável — encontrar um equilíbrio entre o respeito pelos direitos dos participantes e a geração de conhecimento com impacto social. A aplicação rigorosa das boas práticas de anonimização, consentimento informado e gestão ética dos dados permite que a investigação avance de forma responsável, sem comprometer a confiança pública nem a qualidade científica.

CINCO QUESTÕES SOBRE GDI

Questões respondidas por Pádraic Fleming – Research Manager and Cluster Lead – Health da Trilateral Research
(www.trilateralresearch.com), parceiro responsável pelo DMP
Como define, implementa e avalia as práticas de gestão de dados de investigação?

O projeto CLIMOS tem um parceiro dedicado, a Trilateral Research, responsável por aconselhar, monitorizar e relatar as práticas de gestão de dados ao longo da duração do projeto. Um plano de gestão de dados (DMP) do CLIMOS foi produzido até ao mês 6 do projeto de 3 anos, delineando o plano, políticas, processos e procedimentos do consórcio sobre a recolha, armazenamento, acesso, partilha, proteção, retenção e destruição de dados durante e após o fim do projeto. O plano especificou que dados seriam recolhidos e se seriam partilhados ou tornados de acesso aberto e como seriam curados e preservados (incluindo após o fim do projeto) em conformidade com as Diretrizes de Gestão de Dados FAIR do Horizonte Europa. O DMP abordou tanto os dados de investigação quanto as publicações revistas por pares. O DMP é mantido como um documento vivo, atualizado iterativamente ao longo da duração do projeto, com atualizações submetidas à Comissão Europeia no mês 18 e novamente planeadas para o final do projeto. O parceiro coordenador do consórcio é responsável pela gestão do armazenamento de documentos administrativos e de investigação não sensíveis do projeto, num SharePoint institucional seguro e conforme com o GDPR, uma prática aceite pela Comissão Europeia. O coordenador do projeto também mantém a supervisão das práticas de gestão de dados e apoia ativamente o parceiro responsável pela gestão de dados.

Quais os principais benefícios dessas práticas?

Ter um parceiro de projeto dedicado garante continuidade e padronização em termos de processos e procedimentos, além de fornecer uma fonte confiável para os parceiros recorrerem para conselhos e apoio contínuos. Ter um DMP produzido no início do projeto estabelece uma base para o que são “boas práticas de gestão de dados”, garantindo que todos os parceiros tenham informações, diretrizes, regulamentos, processos e procedimentos consistentes e atualizados para implementar, bem como informações práticas, como detalhes de contacto dos responsáveis/oficinas de proteção de dados institucionais, além de uma consciência das políticas e procedimentos institucionais. A nível de projeto, a preparação e atualização iterativa do DMP garante que os parceiros do projeto considerem proativamente o seu papel e responsabilidades individuais em relação aos dados, conjuntos de dados, fluxos de dados, requisitos de dados, interdependências, entre muitos outros aspetos relacionados com os princípios FAIR. 

Em que medida a gestão de dados de investigação contribui para a otimização do processo de investigação?

Ter tarefas dedicadas à gestão de dados incorporadas no plano do projeto desde a fase de proposta, passando pela implementação do projeto, bem como um parceiro de projeto dedicado, simplifica o processo de investigação, garantindo que processos e procedimentos padronizados estejam em vigor desde o início. Além disso, facilita que os parceiros do projeto contemplem e planeiem antecipadamente a investigação de campo, levando em consideração, por exemplo, o trabalho preparatório que precisa ser realizado antes do início da recolha de dados. Isto inclui folhas de informação do projeto padronizadas, processos e modelos de consentimento, acordos de partilha de dados e outros requisitos específicos da tarefa que também podem ser específicos do país ou da instituição.

Que vantagens e condicionantes aponta na partilha de dados de investigação?

O acordo de concessão do consórcio e o acordo do consórcio servem como um contrato juridicamente vinculativo, com obrigações relacionadas com a boa gestão de dados e práticas seguras de dados. A vantagem destes documentos é que os parceiros estão protegidos desde o início, mas também têm obrigações a cumprir desde o início. Além deste documento juridicamente vinculativo, as práticas seguras e seguras de partilha de dados, tanto dentro como fora do consórcio de investigação, são uma das primeiras coisas a serem estabelecidas. Com base nisso, ter práticas claras de partilha de dados garante que todos os requisitos legais sejam cumpridos ao longo da duração do projeto, contando não apenas com a orientação do parceiro de projeto dedicado, mas também trabalhando em colaboração com os escritórios de proteção de dados em cada uma das instituições parceiras, conforme necessário. Como parte das práticas seguras e seguras entre os parceiros do projeto, um repositório centralizado de armazenamento de dados para documentos do projeto (administrativos e relacionados com a investigação) é gerido pela instituição coordenadora do projeto desde o início. Isto é cuidadosamente gerido e mantido ao longo da duração do projeto. Em termos de dados de investigação, foram estabelecidos processos e acordos de partilha de dados separados, dependendo do tipo de dados, da relação controlador-processador de dados, entre outras considerações para uma boa gestão de dados. Estas restrições garantem práticas seguras e seguras, dado o grande número de parceiros dentro e fora da UE. Esta diversidade complica valores essenciais subjacentes à investigação responsável e inovação, por exemplo, reprodutibilidade e transparência da investigação, qualidade e precisão, responsabilidade, preservação a longo prazo, bem como considerações práticas como a capacidade de publicar em revistas de alto impacto. Como resultado, abordagens padronizadas para a gestão de dados são fundamentais para garantir a integridade dos resultados da investigação. 

De que forma os diferentes atores envolvidos no processo de investigação estão comprometidos com a gestão de dados de investigação?

Todos os parceiros são legalmente obrigados a manter a conformidade com o GDPR assim que o Acordo de Concessão e o Acordo do Consórcio são assinados. Na prática, existem pacotes de trabalho, tarefas e entregas dedicadas associadas à gestão de dados. Esta estrutura garante a participação ativa de cada parceiro, com o parceiro de projeto dedicado à gestão de dados, que se relaciona regularmente diretamente com cada parceiro em termos de recolha de informações relacionadas com a gestão de dados a nível individual. Relatar regularmente à Comissão Europeia demonstra a importância atribuída à boa gestão de dados e atua como uma motivação para os parceiros manterem-se em conformidade com as práticas acordadas. 

 

 

A arqueologia tem especificidades na preservação e partilha de dados de investigação?

Como pode um Centro de Investigação implementar uma política de GDI concertada?

Como criar uma cultura de Gestão de Dados junto dos investigadores/as?

DESCRIÇÃO

O Centro Interdisciplinar de Arqueologia e Evolução do Comportamento Humano (ICArEHB), sediado na Universidade do Algarve, celebra uma década de dedicação exclusiva ao estudo da Pré-História. Combinando trabalho de campo e investigação laboratorial, o centro tem-se afirmado como uma referência nacional e internacional na produção de conhecimento sobre os períodos mais remotos da história humana.

A natureza da investigação pré-histórica implica, tradicionalmente, uma abordagem em que a profundidade temporal se traduz numa maior ênfase na quantificação em detrimento da qualificação. Neste contexto, o ICArEHB integra diversas áreas do saber — como a paleontologia, a antropologia física, a geologia e a biologia — enfrentando o constante desafio de articular dados provenientes de disciplinas distintas. Uma das estratégias adotadas por várias escolas de investigação tem sido a aposta na quantificação e na inferência estatística como forma de integrar e comparar dados heterogéneos.

Contudo, desde o início do século XX, a acumulação de grandes volumes de dados nem sempre foi acompanhada por práticas eficazes de partilha e padronização. A ausência de estruturas comuns — como léxicos, variáveis e formatos de dados — tem dificultado a comparação entre projetos e a reprodutibilidade dos resultados. A partilha de dados, ainda pouco enraizada na arqueologia, começa agora a ganhar tração, impulsionada por iniciativas isoladas, sobretudo nos Estados Unidos, que demonstram os benefícios da ciência aberta, como o aumento da visibilidade e da citação dos trabalhos.

Neste panorama, o ICArEHB tem procurado posicionar-se na vanguarda da ciência aberta, promovendo ativamente a cultura de partilha de dados. Desde 2023, o centro tem implementado uma estratégia estruturada com dois eixos principais: diagnóstico e capacitação.

O primeiro passo consistiu na aplicação de um questionário a investigadores e estudantes, com o objetivo de compreender práticas, perceções e barreiras à partilha de dados. A elevada taxa de resposta revelou uma diversidade de níveis de conhecimento e resistência, muitas vezes associada à perceção de posse dos dados e ao desconhecimento sobre licenças de uso e reutilização.

Em resposta, o ICArEHB organizou uma série de workshops, iniciando em 2024 com uma sessão pioneira sobre partilha de dados em arqueologia, seguida de formações sobre o Open Science Framework, licenças, preprints e outros conceitos fundamentais. Paralelamente, está em desenvolvimento um Manual de Ciência Aberta, que reúne conceitos-chave e boas práticas desde a recolha até à publicação dos dados, incluindo listas de verificação por secção para facilitar a sua aplicação prática.

Mais recentemente, o centro reconheceu que a disponibilização de ferramentas não é suficiente sem a criação de uma cultura institucional de partilha. A publicação científica é apenas a vitrine do trabalho realizado — os dados são o verdadeiro contributo para o avanço do conhecimento. Assim, foram criadas iniciativas como o Dia da Ciência Aberta no ICArEHB, com partilha de boas práticas e a atribuição de um prémio para reconhecer a excelência na partilha de dados.

A motivação contínua é essencial, dado que a partilha de dados exige passos adicionais, como a organização de metadados e a curadoria dos próprios dados. No entanto, já existem exemplos inspiradores, como teses por artigos com todos os dados depositados em repositórios e inteiramente reproduzíveis através de linguagem de programação.

O ICArEHB defende que a formação contínua deve ser uma prioridade estratégica e orçamental dos centros de investigação, não apenas para garantir o acesso aberto às publicações, mas também para capacitar investigadores e estudantes nas práticas da ciência aberta. Neste sentido, o centro participa ativamente em projetos-piloto como o Polen, reforçando o seu compromisso com a transparência, a colaboração e a inovação na arqueologia.

TRÊS LIÇÕES APRENDIDAS

Formação como Pilar da Implementação 

A realização de workshops e sessões de capacitação revelou-se fundamental para nivelar o conhecimento dos investigadores e estudantes. A formação contínua não só promove a literacia em gestão de dados, como também fortalece a confiança na partilha e reutilização responsável da informação científica.

Ferramentas estruturantes facilitam a adoção de práticas

O desenvolvimento do Manual de Ciência Aberta tem-se afirmado como uma ferramenta essencial para orientar práticas consistentes. A inclusão de listas de verificação operacionais permite transformar princípios abstratos em ações concretas, promovendo a qualidade e a reprodutibilidade dos dados.

Avaliação baseada em evidência é essencial!

A aplicação de questionários antes e depois das formações tem permitido medir a evolução do conhecimento e identificar lacunas. Esta abordagem evidencia a importância de integrar mecanismos de avaliação desde o início, alinhando-se com o rigor do método científico.

TRÊS DESAFIOS FUTUROS

Definição de metas claras e mensuráveis 

Apesar dos avanços, ainda não foram formalmente estabelecidos indicadores de desempenho. A definição de metas como a percentagem de artigos com dados abertos ou a qualidade dos metadados será crucial para monitorizar o progresso e orientar decisões estratégicas.

Sustentabilidade e continuidade das ações 

A manutenção de formações regulares, a atualização do manual e a consolidação de práticas exigem investimento contínuo de tempo e recursos. Garantir a sustentabilidade destas iniciativas é um desafio que requer o envolvimento de toda a comunidade científica.

Cultura de Partilha ainda em construção! 

Embora haja sinais positivos, a partilha de dados ainda não é uma prática enraizada. É necessário continuar a promover uma cultura de abertura, onde os investigadores se sintam confortáveis, informados e apoiados para partilhar os seus dados de forma segura e ética.

CINCO QUESTÕES SOBRE GDI

Como define, implementa e avalia as práticas de gestão de dados de investigação?

No âmbito da promoção da Ciência Aberta e da melhoria contínua das práticas de gestão de dados de investigação, o ICArEHB tem vindo a desenvolver e aplicar estratégias que visam não apenas a implementação de boas práticas, mas também a sua avaliação sistemática.

A implementação tem sido conduzida através da formação contínua e do Manual de Ciência Aberta, que se encontra em fase de desenvolvimento e é um documento estruturante que reúne os conceitos fundamentais e orientações práticas, inclusivamente apresentando listas de verificação.

A avaliação das práticas implementadas é parte integrante do método científico e essencial para aferir o impacto das ações desenvolvidas. O ICArEHB tem adotado uma abordagem baseada em evidência, que inclui diagnóstico de conhecimentos, com aplicação de questionários antes e depois das ações para medir a evolução e identificar áreas que requerem reforço.  

Para além disso, está previsto para os próximos anos, a definição e objetivos mensuráveis qe permitam avaliar o progresso como, por exemplo, a quantidade de artigos que disponibilizam dados subjacentes, a qualidade e completude dos metadados associados, a adoção de licenças para reutilização, entre outros.

A definição e monitorização destes indicadores permitirá não apenas medir o que foi alcançado, mas também orientar futuras ações e investimentos. A gestão de dados não é apenas uma exigência técnica, mas uma componente essencial da integridade científica, da colaboração interdisciplinar e da valorização do trabalho de investigação.

Quais os principais benefícios dessas práticas?

Na área da arqueologia, os benefícios destas prática são particularmente acentuados, dada a natureza irreversível e destrutiva do processo arqueológico. Uma vez escavado um sítio, o contexto original perde-se para sempre, tornando a documentação e a partilha dos dados recolhidos não apenas desejável, mas imperativa.

Entre os principais benefícios da partilha de dados na arqueologia destacam-se, a validação científica (a disponibilização dos dados permite que outros investigadores reproduzam análises, confirmem resultados e explorem novas interpretações); a maior visibilidade e impacto (estudos recentes, inclusive na área da arqueologia, demonstram que a partilha de dados está associada a um aumento significativo no número de citações dos trabalhos publicados) e a reutilização e inovação (Dados bem organizados e acessíveis podem ser reutilizados em novos contextos, promovendo abordagens interdisciplinares e maximizando o valor do investimento científico).

A partilha de dados não é apenas uma boa prática — é uma exigência científica e ética. Ao promover a organização, documentação e disponibilização dos dados, a comunidade arqueológica garante não só a reprodutibilidade dos estudos, mas também a sua relevância futura.

Em que medida a gestão de dados de investigação contribui para a otimização do processo de investigação?

A otimização do processo científico passa, inevitavelmente, pela organização, sistematização e validação dos dados. Estes três pilares — organizar, sistematizar e comprovar — são fundamentais para garantir a robustez e a reprodutibilidade da investigação. No entanto, nenhuma destas etapas pode ser plenamente concretizada sem o acesso aberto aos dados.

Um exemplo paradigmático desta necessidade é o modelo dos hubs de síntese científica, uma abordagem já consolidada em áreas como a biologia e que começa agora a ganhar expressão noutras disciplinas. Estas iniciativas reúnem anualmente grupos de investigadores de todo o mundo que, de forma colaborativa, escolhem um tema específico e produzem sínteses abrangentes sobre determinado aspeto científico.

Recentemente, foi lançado o primeiro hub de síntese na Europa com foco em arqueologia e ciências humanas. Esta iniciativa, embora não seja exclusivamente dedicada à promoção de dados abertos, depende intrinsecamente da sua existência. A síntese científica — por definição — baseia-se na integração de múltiplos conjuntos de dados, oriundos de diferentes contextos, projetos e instituições. Sem dados disponíveis, a síntese simplesmente não é possível.

Que vantagens e condicionantes aponta na partilha de dados de investigação?

As vantagens são evidentes no campo da Arqueologia, mais ainda na Arqueologia pré-histórica! Quanto às condicionantes, as mais relevantes não estão necessariamente ligadas a quem produziu as evidências, mas sim à forma como o património arqueológico é gerido, regulamentado e tecnicamente suportado.

A partilha de dados arqueológicos deve respeitar a legislação em vigor em cada país, o que pode implicar restrições significativas. Um exemplo comum é a proibição de divulgação de coordenadas geográficas de sítios arqueológicos, com o objetivo de proteger o património de vandalismo, pilhagem ou exploração indevida.

Outro caso sensível diz respeito aos dados relacionados com enterramentos humanos. Na Europa Ocidental, a desconexão cultural com os antepassados permite, em geral, uma abordagem mais aberta à partilha desses dados. No entanto, em outras regiões do mundo, onde essa ligação permanece viva e significativa, é fundamental envolver as comunidades locais e obter o seu consentimento antes de qualquer divulgação. A consulta pública torna-se, assim, uma exigência ética incontornável.

A partilha de dados arqueológicos também enfrenta desafios técnicos relevantes. Um dos principais é o armazenamento de grandes volumes de informação, como modelos 3D de sítios arqueológicos, imagens de alta resolução ou bases de dados complexas. A infraestrutura necessária para armazenar e disponibilizar estes dados de forma acessível e segura nem sempre está disponível ou é financeiramente viável para todas as instituições.

Além disso, a proliferação de iniciativas e plataformas de partilha pode gerar confusão entre os investigadores. A diversidade de repositórios, normas e formatos — embora positiva do ponto de vista da oferta — pode funcionar como uma barreira à adoção, sobretudo para quem está a dar os primeiros passos. Esta fragmentação não constitui uma condicionante intrínseca, mas representa uma limitação prática que deve ser reconhecida e abordada com estratégias de orientação e formação.

De que forma os diferentes atores envolvidos no processo de investigação estão comprometidos com a gestão de dados de investigação?

A construção de uma cultura de partilha de dados na investigação científica exige o envolvimento ativo de múltiplos atores e um compromisso coletivo com os princípios da ciência aberta. Na área da arqueologia, este movimento tem vindo a ganhar força, com sinais claros de sensibilização e ação concreta por parte de centros de investigação, universidades e agências de financiamento.

Os investigadores desempenham um papel central na criação desta cultura de partilha. Embora este compromisso ainda esteja em fase de consolidação, começa a observar-se uma crescente sensibilidade para a importância da disponibilização de dados. Na Universidade do Algarve, por exemplo, dois centros de investigação manifestaram, por iniciativa própria, interesse em desenvolver políticas internas de partilha de dados, refletindo uma mudança de paradigma.

Como parte deste esforço, está prevista a nomeação de dois datastewards, responsáveis pela implementação e monitorização de uma política institucional de gestão de dados abertos. Esta medida visa garantir que todos os investigadores estejam alinhados com boas práticas e que a partilha de dados seja integrada de forma estruturada nos processos de investigação.

Mas também as agências de financiamento têm um papel determinante na promoção da partilha de dados, tanto através da regulamentação como do financiamento direto de infraestruturas e formação. Embora ainda haja caminho a percorrer, verifica-se um bom alinhamento entre as exigências das agências e os princípios da ciência aberta. O reforço deste papel poderá passar por uma maior clareza nas orientações, apoio à capacitação técnica e incentivo à adoção de plataformas comuns.

Decorreu, na semana passada, no Campus da NOVA SBE, em Carcavelos, o Encontro Ciência 2025, o maior encontro de ciência e tecnologia de Portugal sob o tema “Ciência, Inovação e Sociedade”, onde o consórcio Re.Data esteve presente.

O coordenador do projeto, Pedro Príncipe, da Universidade do Minho, apresentou o projeto ReData, numa das sessões paralelas do evento, com o título “Estratégias e ferramentas para práticas de Dados Abertos em Portugal”. Foi também orador numa segunda sessão paralela, onde se debateu “Ciência Aberta e Acesso Aberto: práticas e políticas”.

O projeto ReData esteve igualmente presente na sessão de e-posters do evento, tendo chamado a atenção a de  “curiosos”,  o trabalho desenvolvido nas várias linhas de atuação do projeto: o Quadro de Referência, a constituição do Grupo Nacional de Interesse em Políticas e Estratégias de Ciência Aberta, bem como as acções de formação já realizadas e agendadas, e casos de estudo no âmbito da curadoria de dados. A análise dos números de participantes nas iniciativas, bem como a interação crescente com os canais de comunicação do projeto, denota o interesse da comunidade científica nestas temáticas.

A presença neste evento permitiu a partilha de contactos e experiências com diferentes investigadores e entidades, sensibilizando-os para a verdadeira importância de tornar os dados abertos na comunidade científica!

Decorreu na passada segunda feira, dia 30 de Junho, a 2ª reunião do Grupo Nacional de Interesse em Políticas e Estratégias de Ciência Aberta. Esta reunião contou com a presença de 26 representantes institucionais, de 19 instituições de ensino superior e 8 centros de competências.

A manhã começou com a abertura, pelo Vice Reitor para a Cultura e Ciência Aberta da Universidade de Coimbra, Professor Doutor Delfim Leão, seguida de uma breve nota sobre o enquadramento deste grupo de trabalho no projeto. De seguida, o coordenador do projeto, Pedro Príncipe, da Universidade do Minho, apresentou as linhas de ação do projeto Re.Data.

Nesta manhã de partilha, juntou-se ainda João Moreira, Diretor da FCCN-FCT, que apresentou as Políticas de Ciência Aberta da FCT e as linhas propostas para a política de dados da FCT. Juntou-se, online, a keynote speaker Joy Davidson, Diretora Associada do Digital Curation Centre, que falou sobre como definir políticas que potenciem a FAIRificação dos dados. 

O final da manhã foi marcado por uma breve apresentação do Quadro de Referência para Políticas e Estratégias de Ciência Aberta e Gestão de Dados de Investigação, pelo Investigador Bruno Direito (UC) e Eloy Rodrigues, Diretor do Serviço de Documentação e Bibliotecas (UMinho), onde os participantes expuseram as suas concordâncias, dúvidas e discordâncias, numa sessão envolvente, muito interativa, com pósteres e post-its, num clima de cooperação e informalidade.

Antes de uma tarde de trabalho, houve espaço para um almoço de networking. 

No período da tarde, os grupos tiveram a oportunidade de debater as diferentes fases do modelo lógico apresentado no quadro de referência, bem como fazer uma análise SWOT sobre a implementação de políticas de Ciência Aberta nas suas instituições.

Esta reunião, pioneira, conseguiu juntar vários decisores de topo para debater o futuro da Ciência Aberta em Portugal, e por isso, fez-se história.

Decorreu no dia 26 de junho, no Iscte, a primeira edição do Workshop “Utilização de Cadernos de Laboratório Eletrónicos e documentação de dados“.

A sessão contou com a participação de 31 pessoas e foi dinamizada por Tiago Paixão, Head of Advanced Data Analysis do Gulbenkian Institute for Molecular Medicine (GIMM).

Todos os participantes tiveram a oportunidade de conhecer e testar as funcionalidades, vantagens e limitações do software eLabFTW, ficando evidente a necessidade premente de uma instância nacional de um software de cadernos de investigação eletrónicos ou, em alternativa, de um compromisso político por parte das instituições para a instalação e disponibilização de ferramentas que possam suprir essa carência junto das suas comunidades.

O projeto ReData está a operacionalizar um programa de formação para:

  • Especialização profissional para os diversos atores que dão apoio e suporte à GDI
  • Capacitação de investigadores
  • Formação de formadores

Acompanhe a nossa atividade, subscreva a newsletter

O projeto ReDATA prossegue a sua missão de formar a comunidade em áreas fulcrais da gestão de dados de Investigação, no âmbito do seu  Roteiro de Formação.

A primeira edição do tão esperado workshop de fundamentos da curadoria de dados –  especialização para profissionais de apoio à investigação, teve lugar dia 26 de junho, na Nova School of Business and Economics – Universidade Nova de Lisboa. 

Esta formação, para além de dar a possibilidade de consolidar alguns conhecimentos teóricos, apostou numa componente prática transversal a toda a ação, dando a possibilidade aos participantes de terem uma visão  pragmática das atividades inerentes à função de curadoria, integrando momentos mais  hands on e de  exploração de boas práticas, através da apresentação de casos de uso.

Os participantes mostraram-se bastante cooperativos e empenhados, tendo realizado atividades pré-workshop, requeridas pelos formadores, onde sistematizaram alguns conhecimentos, servindo como base para as atividades previstas em sala.

Foi uma sessão dinâmica, interativa, num ambiente cooperativo e informal, com muito bons resultados de aprendizagem e trocas de experiências, fomentando uma rede colaborativa que, se espera, contribua para a sustentabilidade de uma evolução contínua das práticas e competências nestes domínios de intervenção.

Participaram 32 profissionais, vindos de várias instituições de ensino superior, oriundos de diferentes zonas do país, com alguma diversidade de funções, relacionadas direta ou indiretamente com a curadoria de dados.

As próximas duas edições acontecerão em outubro na Universidade de Coimbra e em dezembro, na Universidade do Minho (campus de Guimarães).

Esperamos por si!

 

No passado dia 11 de junho, no âmbito da conferência final do projeto Skills4EOSC, a Rede Portuguesa de Data Stewards esteve em destaque na sessão sobre Redes de Apoio à Gestão de Dados, apresentada por Curtis Sharma. 

Este projeto tem acompanhado os desenvolvimento da Rede Portuguesa de Data Stewards disponibilizando apoio e documentação sobre a organização, funcionamento e sustentabilidade de redes de profissionais de apoio à gestão de dados de investigação.Saiba mais sobre a Rede Portuguesa de Data Stewards e juntem-se a nós!

O consórcio Re.Data, no quadro do PNCA DAI e tendo por referência o público alvo desta iniciativa, tem planeado um programa especialização profissional, assim como a disponibilização de recursos de apoio e aprendizagem.

Neste sentido, foi elaborado um Roteiro de Formação, disponível para consulta pública na comunidade da Rede Portuguesa de Apoio à Gestão de Dados, no repositório Zenodo, dando assim, corpo e forma de operacionalização aos objetivos previstos no projeto. Este roteiro  reflete assim as ações e atividades já em curso e a realizar, bem como recursos e materiais de suporte. A concretização deste roteiro, pretende assim responder de forma cabal ao fortalecimento das competências em gestão e curadoria de dados, promovendo a capacitação de profissionais e investigadores, em alinhamento com os princípios FAIR e as melhores práticas da Ciência Aberta (CA). Este roteiro articula estas diferentes perspetivas numa abordagem integrada, abrangendo desde a especialização profissional e ações de sensibilização para investigadores, até à criação de recursos on-line e o desenvolvimento de redes colaborativas, com o objetivo de consolidar um ecossistema de formação robusto e adaptado às necessidades da comunidade científica em Portugal.

Pretende-se assim, não só capacitar os envolvidos na gestão e curadoria de dados, mas também fomentar uma rede colaborativa que sustente a evolução contínua das práticas e competências nestes domínios de intervenção.

Na prática, este roteiro contempla no seu programa de especialização um conjunto de workshops, de séries de webinars, de cursos on-line, além de materiais de apoio e ferramentas específicas que promovem as boas práticas na curadoria de dados e publicação de dados alinhados com os princípios FAIR.